TZero

O medo circula por aí, desce rua, sobe rua, esconde-se ou mostra-se descaradamente sem qualquer pudor. O nosso medo, como o deles, não tem rosto nem voz, mas vê-se e quase se torna indiferente. Tem-se tudo e não se tem nada por perspectiva de quem  olha, de quem passa, de quem fica, de quem quer falar ou está ausente em trabalho ou da vida.

Esta crise que nos cobre o corpo, onde um cartão é bem precioso, mas insuficiente para sentir calor, registei-a assim ao longo destes últimos dois anos, um pouco ao acaso, sem grandes conversas nem plano. Até, porque, falar com os donos destes T0 nem sempre é fácil, por ausência como disse, ou  porque, reconstruir histórias ou expô-las não é este o meu fim, porque mesmo sem eles é fácil imaginar, um dos muito rostos que conhecemos e rápidamente nos sentimos impotentes para mudar objectivamente, a vida destes acasos.

E, no entanto, todos eles são diferentes, todas as habitações, cada uma com a sua marca pessoal, com a sua decoração, com a sua história, fiquei-me do que vi da rua, sem entrar em casa!  Estes T0 não se encontram à venda e nem a banca tem sobre eles qualquer crédito, mas, como disse um deles e pensa diferente: uma liberdade paga-se com juros altos e por nada a trocava.

j paulo coutinho 2013

publicada na InComunidade

 

Deixe um comentário