o silêncio e as sombras no jardim de Sophia


Jardim Botânico do Porto ofereceu-me este silêncio, luz e sombra, sem quaisquer plano, num jogo de introspecção, de prazer, regressando eu, sempre, de bolsos cheios de imagens que não tinham destino certo, nem intenção de mediação entre a experiência vivida e a partilha, sem cor para encantar.

Estas fotografias são uma das múltiplas leituras possíveis, do momento, de plantas e árvores deste jardim que aqui e ali habitam, de recantos, onde a luz desenha através delas as sombras dançantes, e da presença humana que se quer com ela confundir.

Trilho a gravilha dos seus corredores, do jardim em silêncio, e, elas disponíveis, evocam-nos o silêncio e a luz, as emoções e as palavras.

Recorrendo às palavras de Alberto Manguel: as imagens que constituem o nosso mundo são símbolos, signos, mensagens e alegorias. Ou talvez sejam apenas presenças vazias que preenchemos com os nossos desejo, experiência, questionamento e remorso. Seja como for, as imagens, como as palavras, são aquilo de que fomos feitos.

J.Paulo Coutinho

publicado em https://www.correiodoporto.pt/

  • © j.paulo.coutinho

O JARDIM

O jardim está brilhante e florido,

Sobre as ervas, entre as folhagens,

O vento passa, sonhador e distraído,

Peregrino de mil romagens.


É Maio ácido e multicolor,

Devorado pelo próprio ardor,

Que nesta clara tarde de cristal

Avança pelos caminhos

Até os fantásticos desalinhos

Do meu bem e do meu mal.


E no seu bailado levada

Pelo jardim deliro e divago,

Ora espreitando debruçada

Os jardins do fundo do lago,

Ora perdendo o meu olhar

Na indizível verdura

Das folhas novas e tenras

Onde eu queria saciar

A minha longa sede de frescura.



Sophia de Mello Breyner Andresen | “Dia do mar”, pág. 15 | Edições Ática, 1974